Servidores do Hospital Escola Portugal Ramalho, (HEPR), fizeram hoje, (27), as últimas homenagens a Miguel Antônio Filho, usuário residente há mais de 40 anos na unidade hospitalar. O paciente teve óbito na tarde de ontem, (26), no Hospital Geral do Estado, (HGE), onde já permanecia hospitalizado há mais de uma semana em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Miguel era um dos pacientes mais antigos e populares da unidade hospitalar. De acordo com D. Mendes de Amorim, que o acompanhou desde a sua chegada ao HEPR, Miguel é natural do município de Flexeiras e desde os 06 anos de idade foi abandonado pela mãe. Durante esse percurso, ele passou cerca de 04 anos no manicômio judiciário, quando foi encontrado na rua, junto a outros meninos separados da família. Após esse tempo no manicômio, aos 10 anos de idade, diz D. Mendes, ele foi trazido para o Portugal Ramalho onde recebeu acolhimento por toda sua vida. “Ele estaria fazendo 50 anos no dia 30 de agosto de 2017″, destacou.
Logo que chegou ao HEPR, Miguel ainda fez algumas tentativas de fugas sem progresso, uma vez que logo era alcançado pelos profissionais. ” Mas isso foi só no início, porque depois ele se adaptou à situação e ao local e foi construindo sua base”, reiterou D. Mendes que levou um pé de bastão-do-imperador para colocar em cima do caixão como forma de celebrar os bons momentos do paciente, que já lhe ajudara em tempos idos, a fincar raízes de uma diversidade de plantas, até hoje encontradas na unidade hospitalar. “Miguel sempre foi muito colaborativo. Sempre estava presente em todos os eventos com os usuários. A sua última participação foi na encenação da Paixão de Cristo, onde fez um dos soldados da história bíblica”, relatou, lembrando, também, que prezava a data de seu aniversário. ” Quando ia chegando perto do seu aniversário, ele já pedia à equipe para ir organizando sua festa e com direito a um número seleto de convidados, quando ele mesmo fazia questão de entregar o convite em mãos, sem esquecer de pedir o seu presente”, enfatizou. No último desfile do Bloco Maluco beleza, mesmo debilitado, Miguel não abriu mão de fazer parte da folia com direito até à fantasia, sendo levado na cadeira de rodas pela educadora física Hortência de Farias, por quem nutria grande amizade. A enfermeira Antônia Costa que também era muito querida pelo paciente, fez questão de pontuar sua tristeza quando soube da notícia do seu falecimento. “Miguel vai nos deixar o legado de que é possível ser feliz em um hospital psiquiátrico”, ponderou Antônia.
D. Mendes pontua, ainda, a personalidade forte do paciente, em decorrência do seu quadro psiquiátrico, diagnosticado com esquizofrenia. ” Quando queria ou desejava algo, e não conseguia, ele se automutilava e provocava outros danos físicos nele próprio”, disse. “Miguel vai deixar muita saudade. Ora me chamava de mãe, ora, de chata, relembra Ivana Bertoldo, secretária da Direção Geral do HEPR, que também era uma espécie de tutora financeira do paciente.